22 de março de 2014

Capítulo 2 (VCAM)

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Acordei com o nariz coçando. Um cheiro doce e enjoativo estava espalhado pelo quarto e eu tinha a vaga sensação de conhecê-lo. Um gato preto estava sentado no parapeito da janela.
Eles me deixaram dormir com isso no quarto?
Levantei-me e arrumei a cama. Se alguma das minhas primas tinha dormido ali, eu não tinha sequer visto. Havia dormido cedo, deixando minha prima e suas damas aproveitando o encontro.
Passei no banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes, depois segui para o closet.
O cheiro doce parecia mais forte ali. Abri a porta e me deparei com uma bagunça enorme. Peças de roupas espalhadas por todo o cômodo. Peguei uma blusinha que estava próxima aos meus pés e percebi que ela era minha. Estava manchada de batom vermelho, e tinha três palavras escritas porcamente: Boca de Sapo.
A raiva me subiu com força total e eu esperava que algo quebrasse, mas a única coisa que sairia quebrada ali era a cara da minha prima.
As roupas jogadas eram todas minhas e eu não sabia quais eram as piores, as rabiscadas de batom ou as rasgadas a tesouradas.
Não me dei conta do que estava fazendo até escutar um grito saindo da minha própria boca:

— LANA!

Desci correndo as escadas e encontrei a família toda reunida no jardim. Minha avó parecia meio assustada, já minha mãe, colocou a mão na cabeça e fechou os olhos começando a rezar.

— Não adianta ficar com essa cara, não! — Olhei para Lana que sustentava um sorrisinho de satisfação no rosto.
— Não tenho nada a ver com isso, Julliet.

Ainda não entendo por que ela tentava parecer a santa, todos já sabiam que ela vivia aprontando!

— Vá à merda, garota! Acha que pode pegar minhas roupas e destruí-las? — Joguei a blusa que eu ainda segurava em seu rosto.

Ela segurou a peça e sorriu ainda mais.

— Quem mandou a Boca de Sapo se meter com as minhas amigas?
— Eu vou te matar, Lana.

Pulei em cima dela, derrubando nós duas.

— Vadia! — Dei um soco no queixo dela.
— Antes ser a vadia do que ter teia de aranha entre as pernas, não acha?! — Ela me deu uma cabeçada, tomando vantagem na briga.
— Prefiro ter teia de aranhas a ser a rodada. Me responde, Lana, seu noivo não reclamou de você ser tão larga aí em baixo?

Chutei sua barriga e dei um tapa tão forte em seu rosto, que a marca dos meus dedos ficou lá. Nós duas nos levantamos e ela fez menção de vir para cima de mim, mas antes que fizesse isso eu a empurrei, e ela saiu correndo para os fundos da casa, onde a piscina ficava.

— Não coloca o Dimitri no meio disso! — gritou enquanto corria.
— Tudo bem. Então vamos falar desse apelido ridículo.
— Qual?! — Lana parou e virou-se para mim, ficando de costas para a piscina. — Boca de Sapo? — Riu enquanto fazia gestos com a boca.

Virei para o lado e a primeira coisa que vi, uma pá de jardinagem, joguei na cabeça dela. Observei a ferramenta fazer uma parábola e bater bem na testa de Lana. Seu corpo deu um solavanco e caiu direto na piscina, a água espirrando para todos os lados e alertando os familiares, que até agora não haviam feito nada, por já estarem acostumados às nossas brigas.
Corri para a beira da piscina e cheguei a tempo de vê-la cuspindo água e batendo os braços com raiva.

— O que você fez, sua idiota?
— Estraguei seu babyliss? — Sorri extasiada com a visão de minha prima parecendo um gato escaldado.
— Sua... Sua... AH! — Tentou me puxar para dentro da piscina, mas eu empurrei sua cabeça para baixo da água.

Um sonho sendo realizado. Lana de boca calada. Era quase uma utopia. Seus braços se agitavam parecendo um cachorrinho tentando nadar. Tão logo a diversão começou, ela se findou.  Tio Garret me puxou para longe da Lana, enquanto meu pai a ajudava a sair da piscina.
Minha prima mal pisou sobre a grama, e já tentou pular para cima de mim. Eu ria escandalosamente e me escondia atrás de tio Garret, que tinha um corpo consideravelmente grande.
Infelizmente a graça acabou quando resolveram juntar a família e nos dar uma bronca.

— Julliet, você tem que ser compreensiva.
— Sua prima está passando por um mês difícil, com todos os preparativos para o casamento e... — deixei minha avó falando com os outros e fui até a mesinha no canto próximo ao vestíbulo.
— Onde pensa que vai, mocinha?!

Dona Matilde parou e colocou a mão na cintura, fazendo aquela mesma cara de dar medo. Não me importei. Peguei a chave do carro e saí do jeito que estava. Usando um baby doll e por cima o robe, até porque todas as minhas roupas haviam sido destruídas.

— Olha vó, só para de passar a mão na cabeça dela. É por isso que a Lana está assim. Vá ao quarto e veja o que ela fez com as minhas roupas. Depois a gente conversa.

Manobrei o carro e abri o portão eletrônico. Saí de casa e em um segundo, estava rodando pelas ruas de Holmby Hills.
Era uma manhã de sábado e o movimento era intenso. Abri as janelas do carro e liguei o rádio deixando o som de All That Jazz inundar meu cérebro.
Eu ainda não acreditava que depois de tanto tempo ainda existia aquela picuinha entre Lana e eu. Era ridículo. Principalmente aquele apelido... Boca de Sapo! Hum.
Continuei andando e quando notei, estava no centro de Crenshaw. As pessoas ali estavam mais tranquilas e eu poderia contar nos dedos o número delas.
Decidi descer. Olhei para o painel e verifiquei quanto de combustível ainda tinha. Eu havia saído sem celular e carteira, e esperava não ser presa por atentado ao pudor. Coloquei os chinelos que mal lembrava estar usando antes, e saí.
Cruzei os braços no peito e tentei não me preocupar com o que os outros pensariam. Estava chateada com a situação e mais chateada ainda por ter sido obrigada a lembrar do apelido idiota que Lana me dera aos treze anos.
Passei por um mercado e olhei para as frutas com água na boca. Eu não comia desde o dia anterior, e estava considerando roubar algumas maçãs quando trombei com alguma coisa e senti as ditas maçãs caindo sobre mim, e eu, sobre o chão.
Olhei para frente só para ver um par de tênis Converse bem sujo, uma calça jeans preta marcando pernas muito bem torneadas, uma fina camada de pelos que começava no umbigo redondinho e acabava bem no cós da calça. O abdômen moreno, quase caramelo, era tão definido que eu me senti tentada a passar a mão por ali e ver se tudo aquilo era tão bom quanto parecia. Os ombros largos deram asas à minha imaginação. A boca era cheia, e estava curvada num sorriso torto irresistível. O nariz meio torto denunciava que tinha sido quebrado em algum momento, por conta de um soco, talvez. Os olhos de um castanho cor de mel, estavam sorrindo divertidos e eu me questionei o porquê.
Foquei a atenção em mim, e soltei um palavrão ao perceber que estava sentada no chão de pernas abertas e que ele estava vendo minha calcinha. Eu me recompus, da melhor maneira que pude, e tentei levantar, mas era meio difícil me levantar e tentar manter o que se deve, escondido.

— Quer ajuda, moça? — A voz grave entrou pelos meus ouvidos, e fez miséria com as outras partes do meu corpo. O leve sotaque espanhol me deixou de pernas bambas.
— Não, eu estou bem, só preciso... — tentei novamente e falhei. — Droga.
— Não vou esperar o dia todo, moça. — Ele estendeu a mão e eu, não tive outra alternativa que não fosse aceitar.
— Obrigada. — Arrumei o robe e o segurei fortemente, como se aquilo fosse me separar do monumento à minha frente.
— Disponha.
— É... — olhei para as frutas jogadas, com a queda provavelmente todas estavam estragadas. — Desculpe-me. — Ele levantou a sobrancelha esquerda, como se estivesse me questionando. — Pelas frutas. Eu não tenho dinheiro aqui, na verdade a única coisa de valor que eu estou carregando agora é o carro, mas ele não é meu, é alugado, então não tem como eu te ressarcir, mas prometo que logo que voltar para casa eu venho aqui e te pago.
— Você sempre fala demais, assim? — O sorriso torto apareceu mais uma vez, enquanto ele se agachava e juntava as maças.
— Não. — Soltou uma risada de descrença. — Só quando estou no tribunal.
— Advogada?
— Acertou. Mas eu falo sério, vou ressarci-lo pelos danos.
— Que tal se eu te convidar para tomar um café?
— O quê? — Ele me ignorou e continuou falando, ao mesmo tempo em que colocava o caixote com as frutas de lado.
— Não precisa pagar pelas frutas se aceitar tomar um café comigo. — Puxou uma camiseta preta de algum lugar que eu não prestei atenção, e vestiu.
— Mas eu nem te conheço! — Mas queria conhecer.
— Não seja por isso.

Bateu as mãos na calça e ofereceu a direita para mim.

— Jacob Black. Muito prazer. — Piscou um olho, e meu coração deu um salto. Pare com isso, Julliet! É só um cara!
— Julliet Stacey — falei sem perceber.
— Então, Jullie, — quando eu o deixei me chamar pelo apelido? — conheço uma lanchonete perto daqui que serve o melhor cappuccino de toda Los Angeles.
— E quem disse que eu aceitei ir com você?
— Pela sua roupa, eu presumo que saiu de casa às pressas, tanto que se esqueceu da carteira, e pelo jeito que estava olhando para as maçãs, apostaria um braço que você está morta de fome.
— Tudo bem — revirei os olhos. — Só não sei se vão me deixar entrar vestida assim — apontei para o robe.

Senti seu olhar correndo por meu corpo e se demorando nas pernas.

— Não vejo nada de mal.

A lanchonete era realmente perto, duas esquinas para frente, e o ambiente colorido ao extremo era aconchegante e familiar. A moça de pele morena e cabelos negros atrás do balcão, não se importou em ter uma cliente quase nua no estabelecimento, e apesar de não ter me olhado com muita simpatia depois de ter visto o rapaz ao meu lado, eu desconfiava que ela fosse uma garota legal.

— O melhor cappuccino da cidade, hein?!

Beberiquei o líquido quente que deslizou suavemente por meus lábios, deixando o gosto natural de café e leite, e o suave sabor do chocolate. Nunca havia provado algo parecido.

— Hum — gemi em satisfação. — Isso é bom mesmo! — Tomei outro gole generoso.
— Eu disse — ele me enviou outro sorriso convencido.
— Okay. Eu concordo, é o melhor cappuccino da cidade, se brincar o melhor do estado. Mas como você descobriu esse lugar?
— Aquela ali, — apontou para a dita moça — é minha irmã, Rachel. Nós trabalhamos juntos aqui por uns dois anos, eu saí, ela ficou. O negócio é que eu passava muito tempo na máquina de café, e acabei fazendo alguns experimentos, alguns não deram certo, mas esse foi, com certeza, o maior sucesso.
— Você criou isso? — Eu O olhei chocada.
— Por que o espanto?
— Você não parece o tipo de cara que é sensível ao ponto de criar um mistura deliciosa dessas.

Jacob colocou a mão no peito, num gesto claramente exagerado.

— Isso me magoa, Jullie — abriu um sorriso enorme, algo que não havia feito até aquele momento, e que tinha me deixado completamente deslumbrada. — Espere até provar com os biscoitos gotas de chocolate.
— Que você também criou? — Perguntei tentando adivinhar as inúmeras facetas do homem à minha frente.
— Não. Essa é uma receita tradicional da lanchonete.
— Okay.

Peguei um dos tais biscoitos gotas de chocolate e comi, logo em seguida dei um gole no cappuccino. Não é que ficava mais gostoso?! Não sabia se era a fome ou a companhia, mas aquele parecia o melhor café da manhã da minha vida.

— Não querendo ser intrometido, nem nada, mas... — fez uma pausa e eu limpei a boca com um guardanapo, já imaginando qual seria a sua curiosidade. — Como é que você chegou ao Crenshaw só de pijama?
— É uma história chata e nem um pouco engraçada. Vai querer escutar?

Ele recostou-se no banco e cruzou os braços, acentuando seus músculos.

— Já saí do trabalho, mesmo, não tenho pressa. — Suspirei consternada.
— Vou contar a história resumida. — Jacob assentiu. — Minha prima é uma filha da mãe que tem como objetivo de vida me infernizar. Isso acontece desde a nossa infância. Ontem à noite, era a reunião das damas de honra do seu casamento, e eu meio que virei a cabeça das amigas dela. Para se vingar, ela cortou e coloriu todas as roupas das minhas duas malas. Eu pirei, nós brigamos e tentei afogá-la na piscina. — Olhei para o rosto dele encontrando suas bochechas vermelhas do esforço por segurar o riso. — Pode rir. — Soltou uma gargalhada tão alta, que eu fiquei com medo de alguém nos olhar torto, mas parecia que todos ali já estavam acostumados com a sua personalidade, então continuei. — É... Engraçado — a situação até que merecia umas risadas depois de eu ter passado por ela. — Minha avó tentou me dar lição de moral, mas eu saí, e cá estou — terminei com um sorriso singelo.
— Tá legal — Jacob falou após o fim de sua crise de risos. — E quantos anos você tem? — perguntou irônico, mas eu só percebi isso quando respondi. — Vinte e cinco, e está brincando de correr atrás da prima?
— Eu só não pensei direito.
— Já tentou ignorar essa enviada do demônio que chama de prima?
— Era o que eu estava tentando fazer, mas olha o jeito que eu estou! — Bufei.

Rodei os olhos pelo estabelecimento e o movimento parecia ter aumentado.

— Que horas são, Jacob?
— Dez e meia — falou com o cenho franzido. — Por quê?
— Tenho que ir. Estou tomando café, quando deveria estar me preparando para o almoço.

Levantei e rapidamente saí da lanchonete sem me preocupar se ele estava atrás de mim.

— Ei! Vá mais devagar! — Falando nele...

Dei uma pausa só pelo tempo de ele me alcançar, e continuei a andar, parando só para destravar o alarme do carro e entrar. Quando ia fechar a porta, a mão dele a interceptou.

— E quando verei você outra vez? — Devo ter feito uma cara de espanto, porque ele me olhou como se fosse uma alienígena. — Não está achando que eu te convidei para tomar café e depois desaparecer da sua vida, não é? — Dei de ombros. — Jullie...

Jacob abaixou a cabeça para ficar da minha altura. Estava sentindo o cheiro de chocolate que vinha dele me inebriando. Escutava o ritmo frenético do meu coração, e percebia minha visão embaçando para qualquer coisa que não fosse ele.

— Quero te ver de novo. — O hálito dele veio direto na minha direção, como uma bomba.
— Não tenho celular aqui — engoli em seco.
— Resposta errada. — Ele se aproximou mais, quase tocando o meu nariz.
— Eu te procuro – estava desesperada para sair dali, por algum motivo desconhecido.
— Não acho uma opção. Tente de novo.

Coloquei uma mão em seu peito e o empurrei para trás, precisava me afastar dele para poder pensar com coerência.

— Sei onde você trabalha, sei onde sua irmã trabalha ,e se você me der seu telefone ficaria muito mais fácil.

Ele pareceu ponderar a situação. Levantei uma sobrancelha e lhe questionei:

— Nunca deu seu telefone para nenhuma garota, não é? — Sorri pretensiosa assim que vi a confirmação em seus olhos. — Não vou te dar meu telefone, Jacob — abri o porta-luvas e peguei uma folhinha do bloco de anotações e uma caneta, entreguei-os a ele. — Escreva seu número aqui.

Mesmo relutante ele escreveu o telefone no pequeno pedaço de papel amarelo, que eu grudei no para sol.

— Está vendo? Vou colocar aqui para eu não esquecer — ri da cara dele.
— Acho que mereci isso. — Balancei a cabeça e coloquei a chave na ignição, enquanto ele fechava a porta.
— Jacob! — Ele me olhou ansioso. — Obrigada por hoje. Só por isso vou te ligar.

Segui meu caminho, muito mais animada que antes. Nunca achei que agradeceria minha prima por algo, mas não é que esse dia chegou?!



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