O chão coberto de terra e
grama verde amortecia o impacto enquanto ele corria. Membros relaxados e depois
contraídos. O suor escorrendo pelo peito descoberto. Rosto tenso. Olhos
fechados. Vento gelado batia em sua fronte, mas ele não sentia o frio que
deveria sentir.
O cheiro salgado ficou mais
forte.
A terra
batida ficou mais evidente e a ventania aumentou. Ele sabia aquele caminho de
cor.
Com um
salto Jacob se jogou.
O
impacto do corpo sobre a água fez um barulho libertador. E o corpo afundando no
mar, se abandonando naquela imensidão, lhe deu o que queria. Calma. Paz.
Movimentando-se
com braçadas fortes ele se viu cada vez mais distante da praia. Parecia não
conhecer o cansaço.
Em algum
momento deu-se por satisfeito e parou. Passou as mãos nos olhos e abriu as grandes
esferas castanhas adornadas por sobrancelhas tão negras quanto os cabelos
curtos que respingavam água salgada. Ainda conseguia ver uma faixa mais clara
no horizonte, a praia de La Push.
Às vezes
Jacob gostava de fazer isso. Distanciar-se das pessoas e curtir a companhia do
mar. Escutar o barulho das ondas quebrando-se nas rochas e o som dos pássaros
sobrevoando o oceano. Era uma solidão acompanhada. Um tipo de solidão que lhe
apetecia... Não a solidão que o seguia nas noites intermináveis na cama de
solteiro ou nos dias de reunião na fogueira, quando todos os lobos com
imprinting se juntavam para dançar, não intencionalmente, sobre as feridas
daqueles que ainda não tinham com quem dividir a vida.
Relembrou-se
da época em que acreditava amar uma amiga. A garota vampira. Agora ela não era
mais uma garota, era uma mulher. Casada e mãe de uma menina. Eles não eram mais
adolescentes. Bella estava feliz no caminho que escolhera e ele... Tinha
crescido. Forçadamente, mas tinha.
Aprendeu
que perseverança era uma ótima qualidade quando direcionada a algo que possuía
futuro. E ele com Bella não tinha. Ela sempre amaria o vampiro e ele sempre
seria a segunda opção. O step. E não era isso que Jacob queria. Ele desejava
ser o primeiro. Ansiava por saber que a garota dele era tão dele quanto ele
seria dela. Mas até agora essa tal garota não havia chegado.
Escutou
um uivo e olhou em direção ao sol franzindo o cenho. Quando alguém queria falar
com ele e não o encontravam, a solução mais prática era uivar. Os rapazes
costumavam chamar de “o uivo do alpha”. Nome muito instintivo e completamente
desnecessário, entretanto, Jacob não contestara.
Nadou o caminho de volta e
saiu em First Beach.
Sacudindo a cabeça, jogando
pingos de água por todo lado ele seguiu em frente.
Logo Seth apareceu ofegante de
dentro da mata, correndo como se o mundo dependesse disso. Ele parou a poucos
passos do alpha, derrapando na areia.
— Seu pai quer falar com você.
– Seth também havia crescido em um curto espaço de tempo. Nos primeiros meses
da transformação ele ainda carregava um pouco da adolescência e tinha o corpo
incrivelmente grande desproporcional ao rosto. Porém, com tempo e experiência,
ele perdera a aparência desengonçada e ganhara um andar predatório e confiante
quase como o de Jacob. Os cabelos também haviam mudado. Um acordo com a irmã,
Leah, o tinha obrigado a deixa-lo crescer. Ambos os irmãos tinham os fios na
altura do ombro, e mostraram que isso não atrapalhava em nada os movimentos
como lobo.
— Meu pai? – As sobrancelhas
de Jacob se juntaram acentuando a ruga precoce entre elas. – O que ele quer?
— Sei lá – falou sem se
importar muito. – Mas deve ser algo sério. Todo o Conselho está reunido nos
fundos da sua casa, até o Sam deixou a Emily grávida em casa para ir lá.
— Certo. Vou pra casa então –
olhou para o corpo notando não estar apropriadamente vestido para uma reunião
do Conselho. – E você – apontou para Seth – volte para a sua ronda e quando
terminar vá direto pra casa. Não quero reclamações da sua mãe sobre você perder
o último ano da escola.
— Qual é Jake?! – Seth
levantou os braços em indignação. – Somos os protetores! Eu não posso me dar ao
luxo de perder tempo com estudos quando posso ajudar aqui.
— Fale isso pra sua mãe, não
pra mim.
O rapaz deu de ombros e enfiou
as mãos nos bolsos da bermuda de tactel, já gasta pelo uso.
— Posso ao menos continuar com
os planos pra hoje à noite? – Continuou o assunto sustentando um sorriso
esperto nos lábios.
— Que planos?
— Você sabe... Mulheres. –
Jacob sorriu enquanto balançava a cabeça.
— Os planos são seus Seth, só
não me coloque no meio da bagunça.
— Isso! – Deu um salto e
quando caiu, já estava transformado em um enorme lobo cor da areia sob as
patas.
Sorrindo, Jacob correu para
casa e entrou rapidamente debaixo da ducha. Limpo e vestindo roupas brancas,
como exigia o inexistente manual do Conselho, ele andou para os fundos,
seguindo o burburinho de uma conversa informal.
— Já era hora, filho – o homem
grande sentado na cadeira de rodas foi o primeiro a falar.
— Estava nadando, pai. – Ele
atravessou o círculo e acomodou-se ao lado de Sue Clearwater, que parecia
preocupada olhando o relógio.
— Já que estamos todos aqui
podemos finalmente começar a reunião?! – Sam Uley também estava impaciente.
— À vontade. – Jacob sorriu
mostrando toda a fileira de dentes brancos e perfeitos.
Após uma breve oração rezada na
língua materna quileute pelo senhor Ateara, o mais velho entre eles, Billy
Black tomou a palavra.
— Como sabem, não somos o
único povo que possui magia no sangue. Há magia em muitas comunidades
espalhadas pelo mundo e eu sou responsável por manter contato com nossas irmãs.
– A voz forte do homem atraiu toda a atenção para si. – Ontem à noite, recebi
um chamado de Lorem, no Texas. O líder do Conselho dessa cidade me ligou
acreditando que nós éramos a última esperança de seu povo.
— E por que ele acha isso? Se
eles têm sangue abençoado por que nos chamam? – Sam questionou, a expressão
mais fechada que antes. Ele não gostava de arriscar a vida dos integrantes do
bando, salvo em casos extremamente necessários. Apesar de não fazer mais parte
da matilha, Sam era parte essencial do Conselho e, sempre que podia, deixava
claro sua aversão a missões desse tipo.
— Somos uma família Sammuel. –
Quil Ateara fez questão de contrariar as ideias do mais jovem. – Quando
precisamos os de Lorem sempre vieram em nosso auxílio, esta é nossa chance de
retribuir o favor. Continue Billy.
— As terras de Lorem estão
sendo devastadas. Animais sendo mortos e muitas pessoas estão desaparecendo ou
sendo mortas. Eles não sabem o porquê. Não têm ideia de quem possa estar
fazendo isso. Os de Lorem não são guerreiros como nós, Sam, são apenas
defensores da natureza eles partilham dela de uma forma que nós, talvez, nunca
entenderemos.
— E qual o nosso papel, pai? –
Jacob que escutava atento as palavras do pai tomou frente.
— Vamos enviar reforços –
Billy não hesitou em responder. – Você, como alpha, se encarrega dessa parte. –
O filho assentiu.
Jacob esfregou os olhos, percebendo
o problema que eles acabavam de arranjar. Sam tinha razão em não gostar
daqueles acordos. O tal líder do Conselho no Texas não fazia ideia de quem eram
as pessoas, se fossem pessoas, que estavam atacando a cidade e chegar a uma
luta sem nenhuma informação era péssimo. Ele não poderia mandar os mais jovens
para lá, pois seria assinar o atestado de óbito a eles e deixar a reserva
desprotegida seria estupidez.
— Eu vou – o olhar de todos os
presentes pousou sobre ele.
— Não pode deixar a reserva Jacob.
– Sam contrariou as decisões novamente.
— Leah ficará aqui, ela é a
segunda no comando e tem muito tempo como transfiguradora. Todos os lobos com
imprinting ficam e os mais novos também. Levarei Seth e Embry comigo. – Sue
começou a contestar, mas ele a interrompeu. – O ano letivo está acabando e essa
é a última seMana de provas. A senhora vai até a escola e arruma um motivo para
que Seth faça todas as provas na segunda. Nós três, Collin e Brady viajamos na
quarta.
— É a sua decisão final?
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