29 de março de 2014

Capítulo 12 (NA)

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O terreno abandonado ficava um pouco distante de Lorem, o que facilitava a entrada e saída deles e dificultava as buscas dos moradores.
Fazenda “Nova Vida” estava escrito na placa, indicando o início das terras. Irônico, considerando que as únicas coisas vivas ali eram os corvos, que eles mesmos colocaram como forma de alarme. Um alarme natural e seguro.
A nuvem verde e disforme seguiu o caminho terroso, parando em frente a uma construção antiga. Lascas finas de madeiras caiam na varanda, apodrecidas pelo tempo e pelos cupins. Elas faziam um som contínuo, propagando noite adentro. Parecendo seguir esse ritmo, a fumaça tocou o chão. O verde tornando a ser negro. A túnica arrastando-se no chão repleto de folhas mortas.
Dentro da fazenda, o ambiente não era diferente. As poltronas encardidas, outrora alaranjadas, tinham grandes buracos por onde a espuma bege saía. O chão, apinhado de pó e outras imundícies, rangia com o peso que lhe era distribuído. Havia teias de aranha, mas elas, há muito, não viviam mais ali.

— Vermont! – Apesar de parecer um sussurro, a voz de Calisto carregava uma ordem muda que ele repugnava seguir. Mas eles eram assim. Não tinham sentimentos. Trabalhavam com apenas três regras fundamentais, a base dos inanimis. Siga o mais antigo. Odeie os vivos. Encontre o Mana.
— Sim. – Vermont começava a aproximar-se do centro da construção decadente. O “mapa Vitte” estava aberto sobre a mesa bamba e seu superior estava ao lado. O capuz abaixado, revelava o rosto branco, desprovido de expressões humanas ou qualquer uma das eventualidades que a vida trazia consigo. A boca fechada nunca mais se abriria e o pelo jamais cresceria em seu corpo. Estava aí, a razão de a cabeça ser lisa.
— Não trouxe as Pryde’s contigo. – Não era uma pergunta, mas, mesmo assim, Vermont assentiu, deixando o capuz cair e revelar as marcas sobre a pálida pele.
— Chamaram os transfiguradores para ajuda-los.
— Já imaginava que isso aconteceria. Os animalium nunca foram muito espertos para darem conta de seus problemas sozinhos – os lábios colados repuxaram-se em um sorriso nuvioso. – Aconteceu há uma geração, não seria diferente com esta.
— A mais nova tem uma ligação com o alpha. – Vermont rodou a mesa e parou ao lado de Calisto. Vitte mexia-se em linhas verdes, cada fronteira mostrando as vidas na reserva San Bernard e cada ponto indicando um pequeno reservatório de Mana.
— Ligação? – Os olhos negros de Calisto apresentaram uma curiosidade genuína.
— Ela estava em casa quando chegamos, nos viu e conseguiu fugir.
— E... – Tombou a cabeça para o lado, mostrando a cicatriz arredondada sobre a pele. Uma espiral que significava o seu poder dentro da Ordem. Só sairia do cargo se morresse, o que era difícil, já que ele estava morto.
— Ela correu para uma casa. Eu a persegui, mas ela o chamou. Jacob. Em segundos ele apareceu. Um lobo castanho avermelhado enorme.
— Bom... E o que mais?
— Eu vi uma tatuagem nas costas de Pryde.

Sem esperar que seu Prefectus pedisse, Vermont ergueu a mão direita, a palma voltada para cima. Sobre ela, um desenho esverdeado começou a surgir, primeiro num brilho fraco, depois iluminando todo o recinto. A meia lua mágica foi tomada de sua palma.
Calisto a soltou no centro da mesa.
Crescendo irregularmente, o símbolo tocou o teto. Toda a forma da meia lua era mais que riscos e coloridos, era um 3D muito mais real que qualquer outro.
O inanimi mais velho passou o dedo no lugar da linha branca. A unha comprida atravessando a figura que, nada mais era do que um holograma. A compreensão atravessou sua mente, enquanto ele completava a figura em pensamentos.

— Não é uma tatuagem – pousou os olhos negros em Vermont. – É a marca Nisi Amare.
— Como?
— Você sabe que não somos os únicos com mágica, Vermont – a voz de Calisto beirava uma diversão sombria. – Isso aqui – apontou para a figura levitando sobre a mesa – é o nosso ponto de equilíbrio.

Vermont franziu a testa lisa. O chamado de Kahli pelo lobo, acreditava ele, ter sido fruto do desespero. O lobo ter atendido a esse chamado, se devia à sua própria magia. Porém, pelo que acabava de entender, existia outra coisa, outro poder, outra magia relacionada aos dois que poderia combatê-los.

— Lembre-se de seus ensinamentos, Vermont. – O ódio comum nos inanimis voltou a reinar no tom de Calisto. – Não posso ter errado ao Iniciar você.

Algo parecido com um rosnado reverberou pelas paredes precárias da construção. O mais novo odiava aquilo. Odiava a cobrança e o fato de que, mediante a qualquer oportunidade, Calisto sentia prazer em lhe mostrar suas falhas. Se pudesse, e tivesse a oportunidade, lhe tomaria a posição de Prefectus.

— Tudo no mundo tem seu equilíbrio, Prefectus, e conosco não seria diferente.
— Sim, conosco não seria diferente – sussurrou enquanto, com as mãos soltando inúmeras faíscas verdes, gesticulava. O símbolo começava a ganhar outras formas. Mais três meias luas apareceram. Cada uma de um tamanho diferente, em locais diferente e com linhas brancas desiguais. – Veja bem, a força do universo nos criou para contrabalancear os animalium. E essa mesma força criou o Nisi Amare para equilibrar o Imprinting, uma magia que foi transformada a partir dos próprios transfiguradores. O Imprinting foi um efeito colateral da Terram e, para não deixa-lo sozinho, o Nisi Amare foi criado. Era para ser igual ao Imprinting, um animalium se apaixonar pelo humano escolhido, mas, como sabemos, a magia é imprevisível. Um animalium só pode ter o Nisi Amare, se um quileute tiver um Imprinting por ele.
— Pryde teve um Nisi Amare – Vermont afirmou para si mesmo.
— Sim. E isso nos leva... – O Prefectus deixou a frase em aberto, olhando para a marca do Nisi Amare.
— A Pryde foi feita para nos combater.
— Destruir para ser mais exato – escondeu as mãos nas mangas da túnica, deixando os braços em frente ao corpo. – Kahli Pryde foi feita para nos destruir. Um efeito colateral da magia. Brilhante, não acha – a boca curvou-se. – O universo nos criou e ele próprio quer nos exterminar. A pessoa que pode encontrar o Mana para nós é a mesma pessoa que pode nos aniquilar da Terra.

O símbolo agora brilhava. Verde sendo substituído por um vermelho que se assimilava ao rosado. Completa, a marca mostrava que os riscos brancos eram mais que linhas aleatórias. Se observados de perto e com atenção, poderiam formar uma figura. Um lobo. Um lobo quileute.

— Procuramos o Mana por milênios e ele nos encontrou – Vermont falou, antes de o brilho rosado tomar a casa.



 

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