Jacob subiu as pequenas
escadas da varanda em um grande pulo e abriu a porta da frente com um estrondo.
Estava claro que nenhum dos rapazes estava disposto a sacrificar o sono perdido
na noite anterior para atender algo infortúnio como um telefone.
— Oi!
— Jake? – A voz de Billy soou curiosa
pelo fone do aparelho.
— Oi pai.
— Por que demorou a atender? –
O mais jovem bufou, antes de se jogar no sofá velho da sala.
— Estava na rua e os outros
estão dormindo.
— Ah sim. Tudo bem?
Está tudo bem?
Pensou na pergunta do pai e na
avalanche de novidades dos últimos dias. Moradora raivosa. Filha da tal
moradora desaparecida. Imprinting. Ele ignorando a magia/escolha. Kahli sendo
atacada. Ele cuidando dela. Sibila chegando lá e se mostrando mais enlouquecida
do que nunca. Kahli decidindo não morar mais com a mãe. Ele indo até a antiga
casa para ajudá-la com a mudança. Ele convidando-a para um encontro e...
Espera... Eu a convidei para um encontro?
— Jacob! Você ainda está aí?
— Claro, claro.
— Então... Está tudo bem com
vocês aí? – O tom cauteloso de Billy fez Jacob esquecer-se, momentaneamente, do
rumo dos pensamentos e focar-se no pai.
— Por quê? Era para ter
acontecido alguma coisa?
— Não sei, Jacob! – E lá
estava! A voz elevada e apreensiva. – Vocês foram para a cidade encontrar algo,
ou pelo menos ajudá-los. Então, conseguiram fazer um dos dois? – Era óbvio que seu
“velho” não diria nada.
— Talvez os dois – respondeu
enquanto esfregava a mão na testa.
— Como? – Questionou,
aparentando não ter ouvido direito.
— O senhor conhece alguma
lenda ou... – engoliu em seco lembrando-se da aparência incomum do cara da
noite anterior. Aquilo nunca seria um humano qualquer e ele confirmou sua
teoria depois de escutar a voz do cara em sua cabeça.
— Relacionada aos animalium?
— Sim. Quer dizer... Algum
inimigo que eles possam ter, não sei.
— Vou ver o que posso fazer,
Jacob. Mas acho que você deveria conversar com a Clary.
— Clary?
— A senhora que, provavelmente,
já deve ter cabelos brancos e tem o costume de andar com uma trança enorme. – A
descrição acendeu uma luz na cabeça de Jacob.
— Sim, já sei quem é. Mas como
o senhor a conhece?
Passou um tempo antes que
Billy respondesse e esse tempo serviu para aumentar as suspeitas de seu filho.
Afinal, o homem admitiria o que Jacob supunha desde que entendeu que o ódio de
Sibila por ele, não era, exatamente, por ele ou inventaria alguma desculpa?
— Sim, conheço – o pai admitiu
em um jorro de palavras.
— Quando a conheceu? – Jacob
não hesitou em perguntar.
— Quando eu viajei para a
cidade pelo mesmo motivo que você há vinte e três anos.
A verdade não o deixou mais calmo,
muito menos mais contente. Pelo contrário, só serviu para acrescentar mais um
mistério aos dias e noites enigmáticos de Lorem.
Ela também foi útil em
recordá-lo do seu encontro com Kahli.
Afinal, o que estava pensando
ao cercar a garota e chamá-la para sair?
— Tudo bem, pai. Não importa –
admitiu, mais para si mesmo, do que para o homem. O passado já havia sucedido e
não mudaria nada do estava acontecendo no presente.
— Está tudo bem, mesmo? Jacob,
você está estranho. Eu te crio desde moleque, eu seria um péssimo pai se não
notasse algo errado.
— O senhor é o estranho,
velho! – A diversão na voz de Jacob, ainda que falsa, pareceu satisfazer Billy.
Ou não. Seu filho não sorria muito desde o casamento de Isabella, o que só
confirmava que algo muito errado havia acontecido. Mas William contentou-se com
a resposta. Cedo ou tarde ele descobriria.
— Certo, Jake. Não me chame de
velho. – O mais novo imaginou o pai balançando a cabeça de um lado a outro, com
um riso amaneirado no rosto. Ele abriu outro sorriso com isso. – Tenha um bom
dia e trate de não esquecer-se de mandar notícias, sim?
— Sim, senhor... Velho.
Ainda conseguia ouvir as
imprecações do pai ao desligar o telefone e não gargalhar foi impossível. Não
pode idealizar como ficara tanto tempo sem ter uma conversa mais leve, ou sem
as brincadeiras comuns com o pai. Era impossível que passara tanto tempo imerso
em um futuro que jamais existiria, quando tinha uma vida bem diante de seus
olhos.
— E aí?
Seth apareceu de supetão, na
porta do corredor e fez o favor de, tanto trazê-lo para a realidade, como
assustá-lo. Foi questão de poucos segundos para que Jacob agarrasse a almofada
e a jogasse do sofá em direção ao mais novo. Como sempre acontecia, o garoto
desviou-se e, mal conseguindo respirar entre as risadas, atirou-se no parco
sofá, que rangeu em protesto.
— Jake, você me diverte.
— Que bom saber disso. –
Tentou acertar outra almofada no Irmão, que, dessa vez, a lançou de volta.
Jacob não resistiu e juntou-se
às risadas de Seth. Sorriu para o tempo que passara sem fazer isso. Sorriu por
decidir, finalmente, seguir em frente. Sorriu por ter seus Irmãos ao seu lado,
mesmo quando estava com um humor intragável. Sorriu por Kahli. Mesmo sem
conhecê-la direito, uma parte sua já havia escolhido o caminho até ela e isso
lhe causava uma sensação incrível.
— Não me digam que começaram a
beber a essa hora, e o pior, - Embry sentou-se ao lado de Jacob e levantou o
indicador para o amigo – sem mim.
Com demora, ele notou o brilho
nos orbes castanhos e o sorriso de trinta e dois dentes, perfeito para um
comercial de pasta de dentes.
Mais tarde, naquele dia, Embry
diria que apenas um cisco havia caído em seus olhos, por isso eles ficaram
lacrimejando como idiotas. Entretanto, todos os amigos sabiam o motivo do
“cisco” e a razão do abraço esmagador que ele dava a Jacob.
— É bom ter você de volta,
cara. – O tapinha na maçã do rosto significava tudo o que Embry não conseguira
dizer com o abraço.
— É bom estar de volta.
A simples sentença, dita em
voz alta, fez com que as sensações que Jacob sentia fossem ainda mais reais.
Ela o fez enxergar o que acontecia desde a noite anterior. Algo que o deixava
orgulhoso de si mesmo como jamais pensara que estaria. Jacob Black estava de
volta. Mais velho, mais maduro, mas ainda assim, ele estava de volta.
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