29 de março de 2014

Capítulo 5 (VCAM)

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— Eu não vou pedir comida, Julliet.
— Qual o problema?! Estamos aqui desde as nove! O que me faz acreditar que ou você foi demitido, ou pediu demissão.
— Nenhum dos dois. Cobrei meus quarenta e cinco dias de férias, que estavam atrasados. E o problema em pedir comida é que eu não confio no que colocam nos pratos.
— Qual é, Jake! Você vai ter um restaurante, e está com medo do que os outros colocam na comida?
— Minha mãe sempre disse para evitar comidas da rua.
— Não é da rua! É do restaurante japonês mais famoso da cidade!
— Outro motivo para não pedir. Ele será meu concorrente. Agora, continue olhando essas revistas de decoração, enquanto preparo uma macarronada.
— Quer ajuda?
— Só se for para destruir minha cozinha — olhei-o de boca aberta por conta da resposta. — Não me olhe com essa cara, cariño, você sabe o quanto é perigosa em uma cozinha. Semana passada quase explodiu o prédio todo.
— Foi sem querer.
— Eu sei, mas é melhor ficar em locais seguros — sorriu arteiro, e depois saiu correndo quando tentei lhe acertar uma almofada.
— Vá, vá rindo. Quando menos esperar, Jake, eu te pego!
— Estou contando com isso.
— Idiota!
— Eu ouvi isso.
— Esperava que ouvisse, mesmo.

Peguei o controle e liguei o som, imediatamente a trilha sonora de Chicago começou a tocar. Eu havia levado o pen drive com as músicas há alguns dias. Não posso dizer que Jake ficou muito feliz com isso, mas eu dei meu jeitinho... Ou quase.

— Troca de música!
— Mas essa é boa!
— Coloca aquela das desequilibradas.

Segundo Jake, Cell Block Tango era uma música de psicopatas. Eu não discordava, matar o marido porque ele gostava de fazer bolas com o chiclete não é lá muito normal, mas eu preferia não falar mal da minha música favorita.

— Poderíamos colocar luminárias mais baratas.
— Onde vamos achar isso?
— Eu sei fazer algumas que ficariam lindas, e combinariam perfeitamente com o ambiente.
— Jullie... — Virou-se para mim em dúvida. — Tem certeza de que consegue fazer algo não destrutivo?
— Ignorarei isso, ouviu, Jacob Black? E para te provar, vou roubar um pote de plástico seu, e aquela toalha super colorida, que você odeia — levantei-me.
— Não chegue perto.
— O quê?

Ele correu para pegar a vasilha e a toalha, e colocou-as sobre o balcão, que separava a cozinha da sala.

— Isso tudo é medo?
— Precaução.
— Quem diria, Jake. Um homem deste tamanho, com medo de uma mulher quase três vezes menor que ele.

Balancei a cabeça sorrindo. Peguei as coisas e fui procurar cola branca, tesoura e uma lixa. Depois que achei tudo de que precisava, sentei-me na varanda e coloquei as “mãos na massa”. Passei a cola sobre a superfície exterior do vasilhame, e joguei a toalha por cima, tomando cuidado para não deixar nenhuma bolha. Após cobrir toda a vasilha, cortei o excesso da toalha e lixei as partes que sobraram na borda. Fiz um buraco com a tesoura no fundo da vasilha, por onde o fio iria passar, e estava pronto!

— Jake! Me ajuda a colocar?
— Colocar o quê? — Apareceu à minha frente em um segundo.
— Isso. — Apontei para a luminária.
— Tem certeza de que isso vai dar certo?
— Não menospreze meu trabalho! Só cale a boca e coloque na lâmpada em cima da mesa.
— Achei que o apartamento fosse meu — sorriu irônico, enquanto entrava e subia na cadeira para colocar a luminária.
— É seu! Só achei que precisava de alguma coisa para provar que minha ideia vai ficar excelente no seu restaurante. Sem falar que, o seu apartamento precisa de um toque feminino, além, dos sousplats, é claro.

Ele me ignorou e continuou o serviço. Quando terminou, admirei minha obra.

— Eu disse que ficaria bonito.
— É... Dessa vez você acertou — abraçou-me de lado.
— Quando é que eu não acerto? — Olhou-me incrédulo. — Okay. Mas tem que admitir que ficou bom... Agora é só fazer umas cinquenta.
— Não seriam quarenta e nove com essa?
— Não. Essa é sua — sorri para ele. — Para se lembrar de mim.
— E me diz quando é que eu não me lembro! — Dei de ombros.
— E essa comida sai ou não sai hoje? Preciso de forças!
— Para quê? Vai ficar sentada aí o dia inteiro.
— Meu chefe vai me mandar alguns casos para eu avaliar, então, eu tenho que ir.
— Não vai, não.
— Como? — Prendeu-me entre a mesa e ele.
— Seu notebook está aí e, caso tenha esquecido, eu ainda tenho caneta e papel. Você vai passar a tarde comigo, cariño.
— Pediu com tanto jeito, que eu vou aceitar sua proposta.
— Não foi uma proposta, cariño. Você vai ficar aqui, e eu só vou te devolver à noite.
— Isso “se” ninguém ligar atrás de mim.

Empurrei-o para trás, e voltei para meus afazeres. Liguei o notebook entrando logo em meu e-mail. Baixei os arquivos do trabalho, e depois li por cima as outras mensagens, apagando os anúncios. Infelizmente, no meio da bagunça que era a minha caixa de entrada, encontrei um e-mail de Lana, enviado naquela manhã. Abri-o e, imediatamente, me arrependi de tê-lo feito.

— Jake?! Seus planos de passar a tarde sem fazer nada acabam de ser frustrados.

[...]

— Okay. É só respirar fundo — repeti, olhando-me no espelho novamente para ver o vestido que me obrigaram a colocar. — Não. É uma péssima ideia respirar fundo. Se eu respirar, esse pedaço de pano vai explodir, e vou ter que explicar a todos o que aconteceu.
— Você está bem, Jullie? — Jake bateu na porta pela terceira vez.
— Estou bem. É só esse vestido que é ridículo! Como esperam que eu possa dançar com essa coisa longa e apertada em volta de mim?
— Deixe-me ver.
— Não! Está ridículo!

Ele abriu a porta e me tirou de dentro do provador, que era tão apertado quanto o vestido.

— Não está tão ruim.
— É — as outras madrinhas concordaram.
— Você tem um corpo lindo, Julliet, é magra e o vestido vermelho caiu super bem em você. — Joyce falou. — Agora, olhe para mim! Eu pareço com uma daquelas bexigas compridas, sabe?! Vestido bege e cabelo loiro, está horrível.

Escutei uma risada e olhei para Jake, que se divertia à custa das mulheres. Ele fora o único homem que aceitara nos ajudar com a roupa. Nós estávamos em uma escola de dança, que Lana havia alugado para nós ensaiarmos as coreografias do casamento. Aula de dança para casamento... Não precisavam inventar mais nada.

— Ainda não gostei do vestido — insisti. — Parece que a qualquer momento ele pode rasgar e...

Parei de falar quando Jake se agachou e pegou a barra do meu vestido. Agarrou com força as duas partes bem seguras pela linha, e deu um forte puxão, rebentando a costura e deixando um rasgo enorme que ia até a minha coxa.

— O que você fez? — Para melhorar, Lana apareceu querendo arrancar a cabeça dele.
— Dei um jeito no vestido — deu de ombros, como se não fosse nada.
— Esse vestido é de alta costura, tem noção de quanto custa?
— Tenho apenas a certeza de que você os escolheu para que elas ficassem ridículas, e você fosse a bola da vez, como sempre tenta ser.
— Como ousa? — Deu um passo na direção dele, e eu entrei em sua frente desafiadoramente.
— Poupe-nos, Lana. Jake tem razão — olhei para ela, percebendo o quão cômica a situação estava. — Vamos para essa aula, então logo não teremos que aturar mais a sua cara.

Segurei a mão de Jake e nos tirei dali, feliz por poder andar normalmente, e por ter colocado minha prima em seu lugar.

— Mexam-se! — O professor assumidamente homossexual nos batia com uma régua, enquanto tentava ensinar os casais a dançarem tango. — Vamos, queridos! Tango é uma dança sensual, dos corpos entrelaçados, de sedução. Acham que estão seduzindo algo?! — Apontou para nosso reflexo no enorme espelho da sala. — Sua mãe. Essa é a resposta. Estão seduzindo sua mãe! — Gritou estridentemente.

Jake riu baixinho no meu pescoço, e apertou levemente minha cintura, me deixando arrepiada.

— Está rindo do quê?
— Olhe só para ele... Tentando ensinar tango, quando nem ele sabe — soltei um riso que foi pego pelos olhos azuis e perspicazes do senhor Theodore, o professor.
— Eu ouvi uma risada. Quem riu? — Virou a régua em minha direção, encostando-a em minhas costas por apenas alguns segundos, já que Jake me puxou para longe.
— Acho melhor tomar cuidado com para onde aponta essa coisa — falou numa voz grave, e eu notei o tal professor tremer.
— Posso apontar outra coisa, bonitão — tentou dizer sensualmente.

Senti Jake tencionar o corpo, e pousei a mão em seu peito, numa tentativa ridícula de acalmá-lo. Superando minhas expectativas, ele relaxou e segurou minha mão exatamente onde ela estava, quando tentei retirá-la.

— Você acha que sabe tango? — Meu falso namorado perguntou nervoso.
— Eu não sei tango, benzinho... Eu sou o Tango! — Balançou os braços finos com falsa feminilidade.
— Okay.

Jake me deixou no meio salão, foi até o som e mudou a música. Tirou a camisa preta de gola polo que vestia, e ficou só com a regata branca que usava por baixo, deixando os braços musculosos e morenos mais à vista. Andou sensualmente em minha direção, me avaliando com um olhar de gato. Deslizou a mão esquerda suavemente pelas minhas omoplatas, e deteve-se um pouco acima da minha cintura, a outra mão passeou por meu braço e segurou firmemente minha palma.

— O que pensa que está fazendo?
— Mostrando para o senhor Theodore como se dança tango.
— E como fará isso?
— Minha mãe é argentina, cariño, seria uma ofensa a ela se eu não soubesse dançar tango — sorriu travesso, enquanto eu o olhava assustada.
— Você sabe, eu não.
— Acabou de fazer todos os passos certos. Só precisa me seguir.
— Seguir você? Como assim, seguir você?
— Calada, cariño.

Fiz exatamente o que ele disse, quando me puxou de encontro a seu corpo num movimento brusco. Deu um passo para o lado e eu, por pouco, não pisei em seu pé.

— Viu?! Eu disse que não sei dançar isso! Vou fazer você passar vergonha. É melhor chamar outra pessoa.

Ele se concentrou em meu rosto, e falou sem ao menos piscar:

— Quer que eu chame Lana? — Fechei o semblante na hora. — Quero dançar com você, cariño. Confie em mim, você sabe o que tem que fazer.
— Não sei, não.
— Feche os olhos.
— O quê?
— Confia em mim?
— É claro que confio! Mas o que isso tem a...
— Fique calada e feche os olhos — falou usando um tom autoritário, que me deixou estranhamente nervosa e ansiosa por mais.

Fiz o que ele mandou, me tornando muito mais consciente de suas mãos no meu corpo, e de meus seios encostados em seu peito. Tranquei a respiração.

— Relaxe, cariño. Só tem que me seguir. — Engoli a resposta que pensei em dar a ele, e arrisquei aceitar aquilo.

Senti o ritmo entrando por meus poros, e a vontade de me mexer era enorme, mas Jacob havia me pedido para segui-lo. A tensão era palpável. Explosiva. Quente. Esperava aflita por qualquer movimento que pudesse vir dele. E quando este finalmente veio, eu o segui. Submeti-me aos seus desejos e gracejos.
Suas mãos eram hábeis e fortes. Seus braços em torno de mim levavam-me para um mundo novo, desconhecido até aquele instante. Nossos corpos eram uma extensão um do outro. Os movimentos bruscos vindos dele e os meus, leves e ao mesmo tempo fortes, deixaram-me fascinada.
O corpo forte de Jacob sempre procurando pelo meu, enquanto eu me esquivava com delicadeza, me dava a certeza de que dessa vez, eu estava fazendo certo. Tango era a dança das provocações. Quando ele se cansava de me chamar, eu o atraía e, novamente, ele caía em minha teia de delírios e sensualidade, de encantos e paixões.
Seu cheiro, sua voz, tudo nele me obrigava a sentir o medo do envolvimento, mas me fazia querer mais, sentir mais, viver mais, ter mais um pouco dele a qualquer custo. As mãos de Jacob deslizando possessivamente sobre meu corpo. Seu nariz passeando por meu pescoço enquanto ele me girava e deixava minhas costas contra seu peito. Sua respiração pesada me deixando arrepiada a cada arquejo.
Eu não precisava dos meus olhos para experimentar cada sensação que a dança, a música e ele me traziam. Eu não precisava enxergar para saber o que Jacob queria, eu só precisava segui-lo. Eu só precisava me submeter. E eu ansiava por cada segundo em que eu seria dominada por aquele homem.

 


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