29 de março de 2014

Capítulo 6 (VCAM)

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     — Eu não acredito que vocês fizeram tudo aquilo — Sofia me olhava admirada.
     — E eu não sabia que você dançava tango, priminha.
     — Eu não danço, Lana, mas quando se tem o parceiro ideal, você faz coisas inimagináveis — sorri triunfante.
     — Quem diria, não?! A garota estranha e que nenhum cara queria, conseguiu um homem desses. Não é esquisito, Joyce? — A mulher só abaixou a cabeça.
— O que quer dizer com isso?
— Nada, Julliet. Mas é muito estranho.

     Decidi ignorar Lana e continuar arrumando as lembrancinhas do chá de cozinha.
     A pequena demonstração de Jake no ensaio de dança causou uma ótima impressão nas meninas, e outra péssima em Lana. Ela estava determinada a encontrar algo errado em meu namoro, e eu contava com a sorte para que minha prima não descobrisse que meu relacionamento não passava de puro e simples fingimento.
     Felizmente, ou não, o chá de cozinha seria em poucas horas, o que significava que logo todo esse tormento acabaria, e eu me veria livre de Lana por um bom tempo. O restaurante de Jake estava quase pronto. A equipe que trabalhava com Morgana era enorme, e fazia o serviço em pouco tempo e com o máximo de qualidade. Se tudo estava lindo sem o acabamento, imagine quando este fosse concluído!
    
— Vai ficar para o chá? — Perguntei para minha mãe enquanto ela me ajudava a escolher o vestido para a tal festa.
— Não. Isso é coisa de jovens, seu pai e eu vamos aproveitar a noite livre pra... Você sabe!
— Sei, sim. Não precisa entrar em detalhes, prefiro imaginar vocês puros. — Ela gargalhou.
— Pare com isso, filha! Até parece que você e o Jacob nunca fizeram nada.

Eu tinha minhas suspeitas de que minha mãe e a mãe do Jake se conheceram, e encontraram um jeito de me fazer corar como nunca.

— Ah, não! Eu conheço essa cara. Vocês nunca ficaram?! Digo, nunca transaram?
— Mãe!
— O quê? Por essa resposta tenho que presumir que vocês nunca... — confirmei sua suposição. — Ma,s filha, com um homem daqueles, eu não resistiria por muito tempo. Veja, eu quase não consegui esperar pelo casamento para estar com seu pai, que não é muito bonito, — sorriu — não conte para ele, imagine você aguentar todo esse tempo sem o seu Jacob?! Se eu fosse você, abria logo o parque de diversões antes que ele parta para outra.
— Assim como o Caius? — Perguntei me lembrando do último namorado, o que eu, graças a Deus, não levara para a família conhecer, mas que mesmo assim conheceu parte dela, quando decidiu me trair com Lana.
— Ele era um idiota! E sua prima não sabia que ele namorava você.
— Claro, claro.
— Oh! Não está com medo que sua prima fique com ele, não é?!
— Não, mãe. Depois de ter cinco namoros frustrados pela santa da Lana, e um namorado que fugiu com medo da minha família, eu não tenho medo de mais nada.
— É mentira.
— Como?
— É mentira. Eu te conheço muito bem, Julliet Stacey. Sou sua mãe, e se estou dizendo que está com medo, é porque está.
— Não é medo, é só que eu não gosto de mudanças. É bom saber que quando eu voltar, terei um ótimo emprego me esperando, um excelente apartamento, um carro bom e...
— Você tem medo de se envolver e acabar machucada.
— Não, eu...
— Continue se enganando, então. Hoje estava passando por uma livraria e bati os olhos em uma frase que serve direitinho em você. Quer saber qual é? — Neguei, mas ela nem se preocupou com a minha opinião. — O pior cego é aquele que não quer ver.
— Ah não, mãe!
— Não vou falar mais nada, filha. Use o vestido preto, de renda.

E dizendo isso, saiu do quarto. Eu não estava com medo, estava? Era só... Eu queria continuar amiga do Jake. Eu queria tê-lo na minha vida mesmo depois do fim desse acordo. E se me envolvesse emocionalmente com ele, provavelmente botaria tudo a perder.
Parei de queimar os neurônios, e me preocupei em me arrumar para a festa. O vestido vinha até a metade da minha coxa, era preto e coberto por uma renda fina. As mangas eram adornadas só pela renda, e cobriam até o meu cotovelo. O sapato possuía a mesma cor do vestido, no modelo peep toe. Meus cabelos estavam lisos e batendo até a base das minhas costas. A maquiagem forte marcando bem meus olhos, era o toque que faltava para fechar o look.
O jardim estava impecavelmente arrumado. A decoração, nas cores escolhidas por Lana, era linda, e havia fotos dos noivos espalhadas por todo o ambiente. Os garçons andavam de lá para cá servindo os poucos convidados que já haviam chegado. Logo avistei Lana e Dimitri sorrindo abertamente para quem quisesse ver.

— Boa noite, Dimitri — falei me aproximando dos dois.
— Boa noite, Julliet. Não vi seu namorado por aqui.
— Ele teve que ficar até mais tarde resolvendo alguns assuntos burocráticos do restaurante, mas logo logo ele chega.
— Restaurante, não? — Lana manifestou-se. – Cozinha, dança, é bonito. Não sei o que ele viu em você, Julliet!
— Por favor, Lana, vamos tentar manter a civilidade pelo menos por hoje. Não estou com cabeça e nem vontade de discutir com você.
— Já que pediu com tanta educação — sorriu falsamente e foi arrastada pelo noivo, que me enviou um olhar azulado de desculpas.

Andei mais um pouco, cumprimentando as pessoas, até ouvir o ronco conhecido da moto de Jake. Meu coração traidor quase rodopiou em meu peito. Rapidamente ele apareceu em meu campo de visão, trajando uma camisa social aberta nos primeiros botões, calça de alfaiataria e sapatos sociais. Eu apostava um braço que ele ficaria lindo vestido até com roupas rasgadas.

— Boa noite, cariño — falou antes de me dar um selinho longo, e com gosto de quero mais.
— Olá, Jake. Por que demorou? — Mandei-lhe um olhar inquisidor.
— Porque fui comprar algo para você.
— Para mim? Mas o q... Por q...
— Relaxe, cariño. Você é muito nervosa... Preocupa-se com poucas coisas.

Foi só então que eu notei a caixa preta de veludo em sua mão.

— Não fez o que eu estou pensando, fez? — O sorriso em seu rosto me fez tremer.
— Abra e depois me diga que não gostou, só depois pode reclamar.

Entregou-me a caixa, e ela pousou em minha mão com delicadeza. Eu a abri com medo, mas o que eu encontrei ali me encantou de tal forma, que foi impossível não sorrir. Havia um pingente em forma de flor, todo cravejado em diamantes. Quatro pétalas e, sob elas, mais quatro, no sentido contrário. Era lindo e delicado. Porém, o que fez meu pobre coração parar por alguns segundos, foi o pingente ao lado da flor. Era um círculo simples de titânio, mas no centro tinha gravado, em letras delicadas, Cariño.
Senti meus olhos molhados, e os elevei para encontrar os dele.

— É lindo.
— Vai querer devolver?
— Não, mas...
— Foi um presente, cariño, e eu não aceito devoluções — assenti, sem conseguir dizer algo aceitável.

Virei-me de costas para que ele pudesse colocar o colar em mim, e dei graças por ter escutado minha mãe, e colocado o vestido preto sem muitos detalhes. Assim a joia em meu pescoço chamaria muito mais atenção.
Abracei-o com vontade, sem me preocupar com quem estava vendo, com meus medos ou em como aquilo estava fadado ao fracasso.

— Eu amei. Obrigada.
— Tudo para te ver feliz, cariño.

Andamos um pouco pelo lugar. Bebemos algumas taças de champanhe, e fizemos sala. As outras damas de Lana babaram ainda mais em Jake, e eu fiquei cada vez mais mordida com isso. As mãos dele não me soltaram nem por um segundo, e eu me sentia prestes a flutuar.

— Gente! — Lana gritou já um pouco alta por conta da bebida. — É hora dos joguinhos!

Entramos debaixo de uma tenda, que possuía um armário enorme pintado de branco, e várias almofadas coloridas dispostas de forma circular.
Lana e Dimitri foram os primeiros a se sentarem, sendo seguidos pelos convidados. Minha prima, depois de verificar que todos estavam lá, pegou uma caixinha de madeira cuidadosamente pintada, e balançou anunciando que ali estavam papéis com os nomes das brincadeiras, das quais nós participaríamos durante a noite. Ao final de cada jogo, outro deveria ser sorteado.
Parecendo brincar com minha sorte, ela “sorteou” Sete Minutos no Paraíso. Os casais tiravam seus desafios de dentro de outra caixinha, e então iam ao armário para realizá-los, era uma regra voltar com algo que provasse que o desafio fora completado, senão tinham que pagar como prenda cem dólares de doação espontânea. Era um verdadeiro roubo, mas quem era eu para discordar?!
Seguindo a ordem, minha vez de tirar o meu desafio chegou. Minhas mãos tremiam, e eu estava tão nervosa que comecei a suar. Talvez fosse o trauma da última vez que eu brincara disso.

— Beijo de língua — li em voz alta o que estava escrito no pedaço de papel colorido.
— Vá, Julliet. Vamos ver se a Boca de Sapo aprendeu como se faz — Lana riu maldosamente, sendo acompanhada por aqueles que estavam presentes naquela noite fatídica.

Jake apertou minha mão, e nos levou para o tal armário. Meu pior pesadelo. A porta foi fechada e, contrariando minha primeira impressão, o lugar parecia apertado e claustrofóbico.

— Fique calma, cariño.
— Não dá. É horrível estar aqui e...

Parei de falar assim que senti os lábios dele chocando-se com os meus. Não foi como nos meus treze anos. O nervosismo não existia. A ansiedade estava ali, mas era por outra razão. O cheiro de vinho e chocolate era o mesmo, acrescentando um “quê” de masculinidade à essência.
Os dedos de Jacob infiltraram-se em meus fios numa carícia gostosa. Sua boca movia-se contra a minha com destreza, e sua língua acariciava a minha como se estivesse provando o mais doce néctar que já experimentara em toda a sua vida.

— Tempo esgotado — Lana bateu na porta, nos assustando.

Abrimos a porta, e o peso do olhar dos outros sobre mim ficou mais forte do que quando entramos no armário. Virei-me para ver meu reflexo no espelho ali perto, e só então entendi o porquê daquele espanto da parte dos convidados. Meu rosto estava extremamente corado, meus olhos carregavam um brilho intenso, e meus lábios não possuíam mais o gloss transparente de antes. Eles estavam vermelhos, não vermelhos de inchado, mas um vermelho que combinado ao cabelo meio bagunçado, me dava um ar sexy e selvagem. Eu estava bonita, de uma forma que nunca estivera antes.

— Completaram o desafio? — Minha prima chamou minha atenção com sua voz desdenhosa.
— Está brincando, não é Lana?! — Pâmela a questionou. — Olha a cara da Julliet! Parece que acabou de dar o melhor amasso de toda a vida dela!

Lana fez uma careta, e sentou-se ao lado de Dimitri, contrariada. Internamente eu gargalhava, por fora mantinha a fachada de pessoa normal. Tudo correu muito bem, até a próxima brincadeira ser anunciada.

— Eu beijaria o porco.
— E o que é isso? — Uma ruivinha com sardas espalhadas pelo rosto falou.
— Esse porquinho — minha prima pegou um porco de pelúcia, e o colocou em seu colo — vai passar de mão em mão, e cada um terá que falar onde o beijaria, e não pode repetir.
— Só isso?!
— Só.

A brincadeira era até muito inocente para os padrões da Lana, mas resolvi me divertir e esquecer-me dela por alguns instantes. A base de muitas risadas e piadas, a sequência ficou mais ou menos assim:
Eu beijaria o porco: na orelha, no braço, no pé, na bochecha, na boca, na mão, no pescoço, na testa, no nariz, na coxa, no peito, na barriga, nas costas, no bumbum, e mais umas seis partes do corpo, deixando claro que o beijo no peito foi escolhido por Jake, e o na barriga, por mim.

— Agora que todos já escolheram onde beijariam o porco, apelidado carinhosamente de Jesse — Lana sorriu e me olhou em desafio. — Façam isso com o seu parceiro.

Alguns gritaram em expectativa, principalmente o que escolheu que beijaria o porco no bumbum, outros não ficaram tão felizes, como o que disse que beijaria o pé do porquinho Jesse.

— Nossa vez — fiz uma careta de diversão, enquanto ficava de frente para ele.
— Achando ruim?!
— Nem um pouco.

Abaixei o decote do vestido vagarosamente, sentindo o olhar dele esquentar minha pele.

— Você primeiro.
— Com prazer, cariño.

Sua cabeça seguiu o mesmo caminho que seus olhos fizeram alguns segundos antes, e sua respiração bateu um pouco acima dos meus seios. A boca deu um singelo beijo em meu colo, e quando achei que tinha acabado, senti sua língua escorregar por minha pele. Eu queria que ela descesse.

— É para beijar o colo, e não fazer sexo oral! — Lana era uma verdadeira estraga prazeres.
— Ficou com invejinha, prima?! — Ela bufou, e eu fiquei feliz por tê-la deixado irritada.

Tirei a camisa de Jake de dentro da calça social, e desabotoei-a, sem me preocupar com o que os outros pensariam. Era para beijar a barriga, não era?! Então eu faria direito.
A pele sob minhas mãos era quente. O peitoral firme não era lisinho, e os poucos pelos que possuía me deixaram louca. A barriga durinha marcada pelos “gominhos” morenos me atraiu como a luz atrai uma mariposa e, sem que eu percebesse, deslizei a unha do indicador direito por ali, me deliciando ao ver seu corpo retesar como resposta.
Empurrei-o para trás, o fazendo deitar-se no chão, e subi em seu colo sentando-me sobre suas pernas. Ouvi os caras fazerem alguns comentários maldosos e fechei a cara, mas sorri ao ouvir que Jake era um homem sortudo.
Deixei a cabeça na mesma altura de seu abdômen, e meu sorriso aumentou mais quando o vi se arrepiar com a proximidade. Mordi os lábios e olhei-o por sob os cílios, a expressão de contentamento me obrigou a continuar. Passei os lábios levemente por cima da sua barriga, sem encostar realmente, para depois beijá-lo bem acima do umbigo. Seu gosto encheu minha boca, e me senti tentada a querer mais, entretanto, os gritos de contentamento dos outros me chamaram de volta para a realidade, e eu me recompus.
Os braços de Jacob envolveram minha cintura assim que ele se sentou, e me puxaram para seu colo. Como nossa posição era meio estranha, ele se contentou comigo sentada entre suas pernas. Ele estava diferente. Suas carícias estavam mais ousadas, e seus gestos demonstravam algo que eu não queria enxergar. Eu temia ter ultrapassado uma barreira com aquela simples brincadeira, e essa barreira seria impossível de reerguer.
O próximo jogo era chamado Imagem e Ação. Cada casal sorteava um filme e este, teria que interpretar uma cena dele. Quem não fosse bem aplaudido, teria que pagar cinquenta dólares, pelo menos essa “multa” era menor.
O filme sorteado por mim e Jake foi “Beastly”. Era baseado em um romance de Alex Flinn, e voltado para adolescentes, mas a história era bonita e nos fazia perceber que todos tinham e mereciam uma segunda chance.
Colocamos duas poltronas no centro do círculo, e sentamo-nos nelas. Na cena estaríamos na cobertura da casa dele, esperando o sol nascer.
Num instante eu estava na casa dos meus avós, e no outro, no apartamento de Jacob. A vista era maravilhosa, e eu podia ver cada pontinho de luz que clareava a cidade.

— O que estamos fazendo aqui?
— Esperando o amanhecer. — Sorri e encostei a cabeça em seu ombro, dobrando as pernas e encolhendo-as junto à poltrona.
— Parece que eu te conheço durante toda a minha vida.

As luzes dos postes foram se apagando uma a uma, e o céu ficando mais claro, num tom lindo de alaranjado. Ajeitei-me na poltrona e deitei a cabeça nas pernas dele, sentindo seus dedos desembaraçarem os fios do meu cabelo. Meus olhos fecharam-se instantaneamente, sem se darem conta de que aquilo havia ultrapassado a cena de um filme.

— Eu acho que... — A voz dele estava rouca, e continha uma emoção desconhecida por mim. — Acho que amo você.

[...]

— Não pode ficar mais?! — reclamei para Jacob, enquanto o seguia até a moto.
— Não. Tenho que ir ao cartório amanhã e, pelo que eu entendi, você tem uma prova de vestidos?!
— É. Vou experimentar o vestido ridículo que Lana escolheu para as damas — revirei os olhos.
— Por que não vem comigo? — a simples pergunta me tirou o chão.
— Não posso, Jake — fechei os olhos antes que eles me traíssem. — Nos vemos depois — beijei seu rosto, e saí de lá com pressa.

Eu não podia ir com ele. Não. Eu colocaria tudo a perder, e logo não conseguiria, ao menos, chegar perto dele sem me sentir magoada. Não. Estávamos melhor só com aquela farsa.
A casa estava silenciosa. O quarto, vazio. Lana fora dormir no apartamento de Dimitri, e meus pais não haviam voltado. Morgana também saíra com o namorado, e o resto dos meus primos desaparecera. Meus avós foram dormir cedo, como sempre. Eu estava sozinha. Mas não queria estar assim. Eu queria o castanho, o caramelo e o calor. Queria chocolate, vinho e algo indecifrável que vinha do corpo dele. Queria o corpo forte dele sobre o meu. Queria me embriagar com o suor de nossos corpos.
Levantei da cama num salto, e coloquei o robe de seda verde sobre a camisola da mesma cor, que fazia parte do conjunto. Abri a gaveta do criado, e puxei o molho de chaves que Jake me dera quando comecei a frequentar seu apartamento. Eu era de casa, e por isso precisava de chaves, palavras dele, não minhas. Calcei chinelos de dedo, apanhei as chaves do carro, e saí antes que mudasse de ideia ou perdesse a coragem.
Sinais fechados ou cruzamentos não me impediram de chegar mais rápido ao meu destino. Multas não me importavam, e o máximo que poderia acontecer seria eu atropelar algum animal, coisas que também não me interessavam no momento.
A chave entrou com facilidade na fechadura do portão do prédio, e quando o elevador parou no apartamento dele, respirei aliviada. Eu estava só há alguns passos de distância do meu objetivo. Percorri sala, cozinha, quarto e banheiro. Nenhum sinal dele. Sentei-me no sofá, fiquei descalça e encarei a televisão. Pela visão periférica, notei a porta da sacada aberta, meu nervosismo era tão grande que eu não prestara atenção nela quando cheguei.
Subi as escadas para a cobertura. A noite era negra. Sem lua. Sem estrelas. Era melhor dessa forma, assim não haveria testemunhas para o que eu estava prestes a fazer.
Encontrei-o sentado em uma das poltronas. Vestia apenas a calça social que usara para o chá de cozinha, mais cedo. Os olhos presos no horizonte estavam bem longe dali, e a taça de cristal, segura pela mão esquerda, continha apenas mais um gole de vinho.
A proximidade entre nós aumentou, fazendo com que ele desviasse o olhar para mim. Surpresa estava estampada em seu rosto, e a vontade de recuar aumentou, porém eu já estava ali, então, por que não fazer algo sem pensar pelo menos uma vez na vida?
Minhas mãos percorreram o fino tecido do robe até chegarem à fita na cintura. O laço simples foi desfeito, e o pano escorregou delicadamente por meus braços, até cair aos meus pés. Os olhos dele percorreram meu corpo coberto apenas pela camisola.
Sem esboçar qualquer reação que não fosse surpresa, Jacob me observou caminhar até ele. Agarrei a barra da camisola, e a subi para sentar-me em seu colo. A taça em suas mãos foi tomada pelas minhas, e eu bebi o último gole que ela reservava, colocando-a no chão.
Corri as mãos, agora livres, por seu abdômen cuidadosamente, gravando cada parte dele, cada músculo, cada marca, por mais ínfima que esta fosse. Subi. Acariciei seu pescoço, detendo os dedos na nuca, e agarrando os fios de seu cabelo escuro. Subi. Meu polegar passeou pelos lábios cheios, e que já haviam me elevado com simples carícias.
Não conseguindo mais esperar, choquei sua boca contra a minha sem o menor cuidado, e me deliciei com o sabor único que ela possuía. Finalmente eu havia feito o que tanto almejava desde que o conhecera. Eu o beijara. Eu tomara a iniciativa, não o contrário.
Após dar-se conta do que estava acontecendo, Jacob decidiu tornar-se ativo. Minhas coxas ficaram expostas à medida que ele as apertava e subia o tecido da camisola com as grandes mãos. Jake tomou o controle da situação para si e, de repente, era ele quem estava no comando, como na vez em que dançamos. Ele ditava, eu só seguia. Sentia falta de homens que não deixavam tudo nas mãos das mulheres. Em meus relacionamentos passados, eu me sentia assim, como se tivesse que fazer tudo. Com Jake não era assim, pelo contrário, estar com ele era ter a certeza de que ele desempenharia seu papel de homem com louvor, porém, sem passar por cima de mim, das minhas decisões, das minhas vontades.

— O que está fazendo?

Com a respiração pesada e a visão meio turva, tudo que vi foram seus olhos escurecidos por algo que, naquele momento, eu também estava sentindo: desejo.

— Esquecendo por algumas horas minha razão.

Beijei-o novamente, com aquela sensação de que nunca me cansaria de estar com ele, e de que minhas lembranças nunca fariam jus àquela realidade.

— Julliet! — Jake quebrou o beijo e me olhou com incerteza. — Tem certeza de que quer isso?
— Pare de fazer perguntas! Eu quero esquecer todo esse acordo pelo menos por hoje. Quero esquecer minha prima e minhas decepções. Por algumas horas, vamos ser apenas você e eu. Por favor. Eu... — olhei para suas mãos ainda em minhas coxas, e cobri-as com as minhas — quero você.

Nós nos beijamos com impaciência. Nossas línguas enroscando-se em carícias cheias de significados que não me importavam. Os dedos dele agarraram as alças da camisola e as abaixaram, expondo meus seios aos seus desejos. O vento bateu neles, deixando os bicos ainda mais intumescidos.
Contrariando meus pensamentos, Jacob segurou firmemente meu traseiro, e colocou-nos de pé. A sensação das suas grandes mãos me apertando elevou minha libido, e eu ataquei sua boca com agressividade. Não sei como descemos as escadas da sacada, ou como entramos no apartamento. Quando dei por mim, estávamos na cozinha, e ele havia acabado de derrubar tudo o que havia em cima da mesa no chão.
Fui deitada sobre o tampo de madeira, e olhei cobiçosa para aqueles olhos magníficos. Sua mão esquerda, que antes descansava em meu quadril, subiu para encontrar a parte exposta do meu colo, que ansiava por contato. Bastou um pequeno toque para me fazer delirar. A outra palma fez o mesmo caminho, agarrando o outro seio. Suspirei. Porém, no instante seguinte, ele me soltou. Olhei-o chateada pela parada, e encontrei um olhar de diversão. Entendi essa diversão, assim que ouvi o barulho de tecido sendo rasgado. Minha camisola estava, agora, inutilizável.
Jacob abaixou a cabeça até meu corpo e beijou com veneração do meu pescoço até a cintura, onde começava a renda da minúscula calcinha. Ergui-me com facilidade, e encaixei seu corpo em minhas pernas abertas. Com nossas bocas coladas, puxei o cós de sua calça, abri a braguilha, e deixei a peça descer por suas pernas. A cueca boxer de alguma cor que, realmente não me interessava, também foi descartada e logo ele estava nu.
Minhas mãos passearam por seus glúteos, e apertaram ali, exatamente como Jacob fizera em mim mais cedo. Ele riu entre o beijo. Levei minhas mãos para frente e o senti. Firme, duro e grande. Acariciei a cabeça, e Jake deixou meus lábios para soltar um rouco suspiro. Movimentei a mão até a base, sem poder fechá-la ao seu redor.
Empurrei-o para frente e me pus de pé, dando as costas para ele e mexendo rapidamente no armário da despensa. Achei o pote que procurava e sorri, pensando no que faria com o dito. Abri a tampa. Passei o doce no indicador. Olhei para Jake enquanto colocava o dedo na boca e o lambia lentamente. Vi-o engolir em seco, e posso jurar que seu membro cresceu ainda mais.
Fiz Jacob deitar-se no chão da copa, e sentei-me estrategicamente em cima dele, roçando nossas intimidades separadas apenas pelo fino tecido da calcinha. Ambos arfamos com o contato. Coloquei o dedo dentro do pote novamente, entretanto, dessa vez, passei o doce em seus lábios. Sem pressa, desci até ele, deixando nossos rostos próximos. Minha língua saiu vagarosamente, e roubou o creme moreno que cobria sua boca. Ao terminar de limpar aquela parte, não deixei que ele me beijasse. Distribui o resto do doce em seu peito e abdômen, o degustando com prazer, sentindo seus gemidos, seu cheiro, seu gosto.
Assim que cheguei à sua cintura, soltei uma risada de ansiedade. Eu esperava por aquilo desde o momento em que havia olhado para o pote na despensa. Enchi a mão com o doce, e espalhei por todo o comprimento, vendo-o estremecer.

— Jullie... — ele me chamou com a voz mais rouca que o habitual.
— O quê? — olhei-o arteira.
— Vai mesmo fazer isso?
— Com certeza, Jake. Sempre quis provar o seu gosto com caramelo.

Sem esperar alguma reação da parte dele, lambi a cabeça e dei um forte chupão que fez um estalo. Jake elevou a cintura e segurou meus cabelos. Passei a língua em toda a extensão, não deixando uma só gota do doce. Observei Jacob por sob os cílios. A expressão de prazer. Os olhos cor de mel, escurecidos pela luxúria. De repente, ele deixou de ser o meu brinquedo. O aperto em meus cabelos se intensificou, e eu deixei-o me guiar para seu membro. Minha boca abriu-se, abrigando o máximo que podia de sua intimidade. A calcinha que eu usava já estava inutilizável, assim como a camisola. Ele ditou o ritmo, e eu só conseguia pensar que caramelo nunca mais seria o mesmo depois desse dia.

— Não quero gozar na sua boca, cariño — Jake soltou entre lufadas.
— Nem eu — subi meu corpo e o beijei. Caramelo, chocolate, vinho e Jake, definitivamente, Jake. — Quero que se derrame dentro de mim.
— Mas...
— Faço controle de natalidade.
— Estou limpo.
— Eu sei.

Ele nos virou, colando seu corpo sobre o meu. Pele contra pele. Levantou meus braços e segurou meus punhos, prendendo-os acima da minha cabeça. Teceu beijos por meu pescoço e colocou meus seios na boca. Lambeu, sugou e mordiscou os mamilos duros de excitação. Quando ele chegou ao “destino final”, arrancou a calcinha de uma vez, deixando-me ainda mais molhada. Suavemente, passou os dedos sobre minha entrada, levando-os à boca logo em seguida. A cena era altamente erótica, e eu só podia imaginar como seria ter a boca dele me dando prazer.
Não fiquei com essa dúvida por muito mais tempo. Sua boca tomou minha intimidade com paixão. Jacob parecia estar com fome, e eu me sentia a maioral sabendo que eu havia provocado essa fome. Jake estava faminto por mim. Ele brincava com meu clitóris, ora pressionando com mais força, ora mais leve. Sugou-o para dentro de sua boca, e meu corpo tremeu.
Sentia sua língua rodear meu sexo molhado. Os barulhos de sucção que ele fazia no processo aumentavam meu prazer. Introduziu um dedo e o dobrou, num sinal de “vem cá”, e eu estava indo. Gritei um palavrão quando senti o primeiro tremor. Estava muito mais consciente das partes do seu corpo que tocavam o meu. Língua. Mãos.
Subitamente, Jake retirou o dedo que permanecia dentro de mim, e o trocou por seu membro. O clímax ainda refletia pelo meu corpo, e ao sentir seu pênis me preenchendo totalmente, essa sensação se multiplicou, cortando minha respiração, causando espasmos em meu sexo e, consequentemente, apertando o dele.
Jacob, rapidamente, virou-me de costas para o chão, e deitou-se sobre mim, penetrando-me novamente. Tentando prolongar os picos de prazer, apertei as coxas e cruzei os tornozelos, aumentando o contato entre nossos corpos, e sentindo-o estocar fundo em mim. Ele gemeu em meu ouvido.

— Você me enlouquece, sabia?!

Não respondi. Não tinha condições físicas para fazê-lo. Continuava sentindo altos picos de prazer, como se estivesse tendo vários orgasmos ao mesmo tempo. Minhas pernas estavam fracas, e eu agradecia por estar deitada, porque se estivéssemos em outra posição, eu não aguentaria manter meu corpo ereto.
Jake deu uma mordida, seguida de um chupão em meu pescoço, e aumentou o ritmo das estocadas, não demorando para se derramar dentro de mim. Com os tremores de seu membro em meu sexo, atingi o ápice, que, dessa vez, foi muito mais forte que os outros.
Encostei o rosto no piso, e tentei normalizar a respiração falha. Jacob tinha o corpo forte debruçado sobre o meu, e eu não me importava com isso. Ele se levantou e no momento em que tirou o membro semiereto do meu sexo, eu gemi com a fricção.

— Preciso me recuperar, cariño — jogou-se para o lado, deixando as costas no chão, e eu me arrastei para deitar-me sobre ele, fazendo leves carícias sobre seu tórax.
— Posso ajudá-lo com isso — sorri satisfeita, com a promessa de uma longa e proveitosa noite ao lado dele, em cima dele, e em todas as outras posições que pudéssemos imaginar.

 


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